quarta-feira, 1 de junho de 2011

A greve - Professora Vivian

Hoje 02 de junho, estamos em greve há 16 dias. Às vezes, fico me perguntando será que algum dia o governo vai fazer greve para que os cidadãos paguem seus impostos em dia? Parece ridículo, mas é o que nós professores de Santa Catarina estamos tendo que fazer: greve para que o governo cumpra a lei.Será que nossos governantes não tiveram professores capacitados e comprometidos  que ensinaram a ser cidadãos honestos, justos, que cumpram as leis? Me sinto angustiada, cansada. Nós professores que amamos o que fazemos, não fomos “criados” para fazer greve, queremos dar aula, ensinar, trabalhar; mas é nosso direito e também nosso dever lutarmos pelo que é correto. A grande maioria dos profissionais em greve não fica em casa vendo TV. Temos nos reunido diariamente visitando escolas, fazendo atos públicos para conversar com as comunidades das cidades da nossa região.
Agora o governo vem dizer que milhares de alunos estão sendo prejudicados pela greve dos professores. Ele só esquece de dizer que estamos em greve porque o próprio governo não cumpre a lei. Não uma lei que surgiu ontem, mas uma lei que foi aprovada há 3 anos.Questionada por 5 estados e novamente aprovada pelo STF em abril deste ano. O governo diz que não tem dinheiro para cumprir a lei respeitando o nosso plano de carreira; mas estamos lendo e ouvindo na mídia desvios dos recursos do Fundeb que deveriam ter sido usados exclusivamente na Educação. Quando comento com os pais o porque dessa nossa luta ele me dizem: “Meu Deus! Por que esperaram tanto tempo pra parar? Como vocês puderam aguentar tudo isso? ” É talvez a primeira vez que temos a comunidade, os alunos a mídia toda a nosso favor, afinal todos temos que cumprir a lei, por que com o governo seria diferente? Por que durante esses 3 anos que ficamos esperando a resposta do STF o governo não economizou dinheiro para cumprir a lei? Não sabia que o julgamento um dia aconteceria?
Outra coisa me deixa muito indignada! Os professores que não estão lutando pela nossa classe. Como podem ensinar os alunos que devem usar uniforme, não devem usar celular, nem mascar chiclete, que devem ser cidadão éticos, responsáveis,  se não lutam pela lei que nos valoriza? Ter colegas que criticam os que estão lutando, colocam os alunos contra professores grevistas, dão desculpas esfarrapadas por não participarem do movimento, isso me deixa muito triste. Problemas, dívidas, família, todos temos. Mas nesse momento, temos que pensar no futuro que queremos; no nosso, de nossas famílias e de nossos alunos. Eu passei 4 anos, de segunda a sexta, deixando minha filha em casa para fazer faculdade  à noite. Depois mais 1 ano e meio, de 15 em 15 dias aos fins de semana fazendo especialização. Estudei porque acredito na educação, porque quero uma vida melhor pra mim e pra minha filha, porque quero um país melhor. Quando acendi o fogo para simbolicamente queimarmos nossos diplomas em praça pública, senti um mal estar, me senti humilhada. Mas não vou desistir da luta, vou continuar buscando a valorização do meu trabalho, do que eu estudei, do meu futuro.
Tenho orgulho em fazer parte de um momento histórico do nosso Estado, que demonstra a união nunca antes vista de profissionais tão fundamentais para o futuro do país.
VIVIAN ALVES DE SOUZA –28 anos,professora efetiva na EEF Mont’ Alverne  -Ituporanga). Formada em Ciências. Especialista em Educação Ambiental.
            

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